O que há por trás da briga pela marca Lotus.

Publicado: 27/09/2010 por Sirlan Pedrosa em Artigos
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Há exatamente um ano, no GP de Cingapura, foi divulgada a volta da equipe Lotus de F1 para o ano de 2010.

O tradicional nome voltaria a categoria pelas mãos de um empresário malaio de nome Tony Fernandes e logo apareceu uma imagem de um carro pintado com as cores da bandeira malaia. Foi recebido com grande ceticismo no meio da F1 e apelidado aqui no Brasil de Lotus paraguaia…

O tempo passou e as coisas começaram a tomar forma, o tal Tony Fernandes era um empresário próspero e dono da Air Ásia, companhia aérea malaia que patrocinava a Williams há alguns anos. Mike Gascoyne era o responsável pela parte técnica do time e a contratação de uma dupla de pilotos experientes e ganhadores de Gp´s ajudou a mudar a forma como a equipe era recebida na categoria.

Tony Fernandes logo entendeu que “a marca” Lotus tinha muito mais apelo que a idéia de um time da Malásia, e passou e investir numa política para legitimar o uso do tradicional nome. Aproximou-se da família do fundador Colin Chapmam, que cuida da história do time através da Lotus Classic, e se associou na empreitada a Proton (montadora estatal da Malásia que é proprietária da Lotus Cars). Como cereja do bolo pintou os carros com as cores tradicionais do time, verde com listras amarelas.

Como não possuía a marca Team Lotus, inscreveu-se como Lotus Racing usando uma licença dada pela Lotus Cars.

Em menos de uma temporada impôs respeito na categoria, menos pelas performances ainda fracas dos carros, e mais pela seriedade do projeto e a estrutura montada para a equipe. A contratação de alguns engenheiros oriundos da Toyota e Force Índia e um contrato com a Renault para o fornecimento de motores e cambio fazem antever um grande salto de qualidade para a equipe em 2011.

Então o mundo passou a enxergar o que só o astuto Tony Fernandes enxergou. A tal Ferrari britânica em que Ron Denis tanto deseja transformar a McLaren já existia e estava esquecida e relegada: A Lotus.

Em pouco tempo e ainda sem resultados a equipe já arrebatou muitos admiradores e trouxe à tona toda a história que estava adormecida pelos anos, com impactos diretos na operação de carros esporte da Lotus Cars.

Tudo estava diante dos olhos de todos e não foi explorado até Tony Fernandes aparecer.

Paralelamente a isso a Lotus Cars contratou o ex-Ferrari Dany Bahar como executivo chefe em meados de 2009, que trouxe outras pessoas que haviam trabalhado para italianos como Gianni Rosato e Miodrag Kotur.

Logo começaram os atritos entre Tony Fernandes e Dany Bahar, que já deixou claro deseja usar o nome Lotus na F1 como uma plataforma de marketing para os carros da Lotus Cars, através de uma possível associação com a ART Grand Prix de Nicolas Todt. Fala-se inclusive de usarem a estrutura da Toyota F1 em Colônia, pagando algo em torno de U$ 30 milhões/ano. O fato de a Toyota ser a fornecedora dos motores usados pela Lotus Cars só reforça o boato.

A recente inscrição da ART na GP2 e GP3 com o nome Lotus confirmou muito do que se falava a algum tempo nos bastidores.

Vale salientar que a ligação de Dany Bahar com Nicolas Todt nos remete ao fato que Jean Todt era o “chefe” de Dany Bahar quando ele trabalhava para a Ferrari…

Por outro lado Tony Fernandes anunciou em Cingapura a compra dos direitos sobre a marca Team Lotus, inclusive o tradicional logo com as iniciais ACBC de Antony Colin Bruce Chapman.

A marca Team Lotus foi comprada de David Hunt (irmão do falecido campeão James Hunt), que havia adquirido o espólio do time e a marca junto a Peter Collins em 1995, quando o ex funcionário da equipe que a havia adquirido no final dos anos 90 capitulou na sua heróica tentativa de manter a equipe viva. David Hunt também não conseguiu os recursos necessários para reativar a equipe e jamais usou o nome desde então.

É importante esclarecer que a Lotus Cars e o Team Lotus foram fundados por Colin Chapmam, mas separados pelo fundador em companhias distintas pelo medo que ele tinha de que o fracasso de uma contaminasse a outra.

Depois da morte do fundador em 1982, a Lotus Cars foi vendida e passou por algumas mãos, entre elas a GM, até ser comprada pela Malaia Proton no início dos anos 90.

Quando comprou a Lotus Cars a Proton tentou reaver na justiça os direitos de uso do nome Lotus em competição através da marca Team Lotus, sem sucesso. Desde então tudo ficou esquecido.

Com a perspectiva de sucesso da equipe Lotus na F1 passou a haver uma briga pelo uso da marca.

De um lado Dany Bahar com a Lotus Cars e do outro Tony Fernandes com a marca Team Lotus e o apoio da família Chapmam.

Quando Tony Fernandes divulgou a compra da marca Team Lotus foi questionado sobre os rumores de uma disputa com a Lotus Cars, respondendo que a justiça britânica já havia decidido isso há 15 anos e que não aceitaria o uso do nome Lotus por terceiros em corridas não só de F1, mas também de qualquer outra categoria.

Hoje a Lotus Cars e sua proprietária Proton divulgaram uma nota onde afirmam que são os únicos proprietários da marca Lotus, que romperam a parceria e o patrocínio com a equipe para 2011 e que vão brigar para que Tony Fernandes não use o nome Lotus na próxima temporada.

A questão final disso tudo é que Tony Fernandes é um empresário que comprou a Air Ásia junto ao governo da Malásia por uma quantia simbólica, e em menos de uma década transformou uma companhia quase falida num case de sucesso empresarial. Obviamente é um homem de boas relações com o governo de seu país. A Proton é uma empresa estatal Malaia.

Desnecessário afirmar que por trás disso tudo se esconde uma queda de braço entre facções políticas da Malásia.

Pelo que demonstrou até aqui em sua trajetória, Tony Fernandes a despeito de suas feições simples e de seu sorriso quase ingênuo não parece um cordeirinho em meio aos lobos, muito pelo contrário parece ser um lobo com forte inclinação a liderar a alcatéia….

comentários
  1. Uma pena, pois iria fazer bem para a F-1 uma marca forte e tradicional para brigar em igualdades de condições com a Ferrari, mesmo enfraquecida é uma marca que anda de mãos dadas com a F-1.

  2. Allan Wiese disse:

    Rapaz, que história louca!
    A Proton não teve peito pra entrar na F1 como fez Fernandes e agora não quer deixar ele usar o nome. E, como você disse Sirlan, Fernandes de bobo não tem nada.
    Quem perde? Novamente o público da F1…

  3. Fernando Kesnault disse:

    É…o mundo automotivo (produção de carros de passeio,etc.) e automobilistico (produção de carros de competição) tem histórias fantasticas nestes quase 150 anos de existência.

    Tem a incrivel rivalidade entre Maserati (de Modena) e Ferrari (de Maranello, perto de Modena) onde uma (Ferrari) ficou dona de 50% da outra e ficou designada como carros de luxo mas depois passou para as mãos da FIAT….

  4. Mari Espada disse:

    Grande Sirlan!!!!
    Ainda não tive tempo de ler o seu post, mas quando vi o seu nome lá no topo da página não me contive em vir lhe cumprimentar!
    Afinal, faz um tempão hein… Espero que você consiga conciliar uns minutinhos em sua vida para nós novamente, porque você fez bastante falta nesse seleto grupo de comentaristas!

    Beijos!

    Depois eu volto aqui com mais calma para ler e dar uns palpites básicos…

  5. Fernando M. disse:

    Eu acho que daqui a pouco o Tony Fernandes junta as duas e a Team Lotus vem mais fortalecida! Como eu desejo isso!

    A propósito, alguém lembra da aposta do Richard Branson e o Tony Fernandes? O chefe da equipe que perdesse iria se vestir de comissário de bordo da companhia aérea do outro durante uma viagem? Inclusive atendendo aos passageiros? hehehe
    Eu acho que o Richard Branson já perdeu… hehehe

  6. Alex-Ctba disse:

    Fala Mestre Sirlan! Q bom q aos poucos vc está comparecendo ao SEU blog hehehe

    Um comentariozinho ali, um post aqui, e quem sabe a coisa volta a uma normalidade né?

    Em relação a Lotus…q imbroglio! Teoricamente então, a equipe nem poderia utilizar o nome nessa temporada né? Vamos aguardar novos desdobramentos desse caso. Enquanto isso o nome “Lotus” vem sendo noticiado e comentado. Publicidade gratuita para a lendária marca…

  7. Vitor, o de Recife disse:

    Bem vindo de volta, Mestre (copiando a reverência do Alex)!

    Curioso como a Lotus já entrou cercada de questões jurídicas. Primeiro, a polêmica com a Force India e Aerolab; agora, esta guerra entre Proton. Vamos poder avaliar qual a real dorça de Tony Fernandes no processo.

    O mais irônico é que Colin Chapman separou as empresas para preserva-las; anos depois, uma quer passar por cima da outra…

  8. Speeder_76 disse:

    Já tinha falado de tudo isso na quinta-feira nos meus lados, mas hoje digo agora: muito bem explicado. Hoje surgiram mais duas noticias sobre o assunto, com a Proton a dizer que terminavam o contrato com Tony Fernandes, e ele a reagir dizendo que era ele o legitimo dono da marca “Tem Lotus”.

    Vai ser uma briga dura e longa, e haverá interesse em segui-la, por certo. O mais espantoso no meio disto tudo é que há um ano, ninguém falava da Lotus, e hoje está por toda a parte… Ah! E não ficaria espantado se no ano que vêm a Lotus comprasse a estrutura da Hispania para correr na Formula 1… contra a Team Lotus.

  9. Mari Espada disse:

    Bom, agora eu li o texto todo, Mestre (copiando os meninos)… apesar que para mim você está mais para um God Father, afinal você que me apadrinhou nesse blog, né? =)

    Olha, você voltou com a corda toda, hein. Neste seu texto você respondeu à todas as minhas dúvidas sobre essa história, deixando qualquer coisa que eu tenha lido sobre o assunto ao longo do dia no chinelo! E olha que eu busquei informações sobre isso, viu…

    Então a questão envolve política, só podia ser! Estou sem palavras, é uma briga de gente grande mesmo.

    Mas me corrija se eu estiver errada, a Proton do Dany Bahar é dona de uma das empresas fundadas por Colin Chapmam, a outra era do David Hunt que foi comprada pelo Tony Fernandes, correto?
    Se são duas empresas distintas, como eles tem direitos legais de exigir a exclusividade da marca Lotus (que pertence às duas empresas)??? Acho que perdi alguma coisa…

    Enfim, se alguém puder me esclarecer qual é a pilantragem que dá esse poder à Proton, agradeço!

    • Sirlan Pedrosa disse:

      Mari,

      Obrigado a você e a turminha pelas palavras, mas eu é que estava com saudades daqui.

      Quanto a sua questão podemos simplificar da seguinte forma :

      Colin Chapmam era um construtor de F1 que também fazia carros de rua, nos moldes do que a Ferrari também fazia, utilizando para isso “duas empresas distintas”, a Lotus Cars e o Team Lotus.

      Chapmam morreu em 1982 e a partir de então as empresas foram entrando em dificuldades.

      A Lotus Cars foi vendida primeiro, ainda nos anos 80. Desde meados dos anos 90 foi adquirida pela Proton. Algo semelhante ao que a indiana Tata fez com as fabricantes Jaguar e Land Rover.

      A Proton é uma montadora controlada pelo governo da Malásia e é importante ressaltar que mantiveram a filosofia que Chapmam imprimia na construção dos carros de rua.

      Dany Bahar foi contratado em 2009 como executivo da Lotus Cars.

      O Team Lotus continuou ainda na F1 muitos anos depois de não ter nenhuma ligação formal com o fabricante, tendo sido adquirido por Peter Collins e disputado pela última vez o mundial em 1994, quando em meio a uma crise enorme Peter Colins vendeu o que restava do time para David Hunt.

      O que temos aqui é um caso onde a Lotus Cars tem o direito de comercializar carros de rua com a marca Lotus, e o Team Lotus o direito de usar o nome em uma equipe de corridas.

      Parece estranho mais é exatamente isso que ocorre.

      Dany Bahar parece querer mudar isso, e lançar um time com a marca Lotus sob o controle da Lotus Cars. Tony Fernandes confia numa decisão judicial inglesa dos anos 90 que garantiu a posse da marca Lotus em corridas de F1 para o Team Lotus.

      Não vai me surpreender se no final disso tudo a Proton venda sua operação da Lotus Cars para o dono da Air Asia….

      Um abração,

      Sirlan Pedrosa

  10. […] não param de surgir sobre a Lotus. A batalha judicial envolvendo o direito de uso do nome entre Tony Fernandes e a Lotus Cars não parece interferir nos negócios da equipe malaia: a Lotus, que fez dois importantes anúncios […]

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